Seria Rodrigo Duterte o Bolsonaro das Filipinas? Comparação de 5 pontos


Durante as eleições de 2018 no Brasil, havia um candidato que parecia, no mínimo, polêmico. Seu nome: Jair Bolsonaro. Conhecido por afirmações fortes e por certa "fama" de homofóbico, racista, fascista dentre outros termos que tentaram atribuí-lo, acabou vencendo as eleições (mesmo com ataques da grande mídia e opositores que estiveram no poder durante muitos anos) trazendo ao país uma inédita guinada mais à direita no espectro político. Muitos o compararam ao presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump (chamando-o de Trump dos trópicos), também polêmico não somente por seus posicionamentos, mas também por sua história um tanto "duvidosa" como empresário de sucesso. Entretanto, talvez a comparação mais inusitada tenha sido com Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas, que acabou ficando famoso pelo seu combate ferrenho ao tráfico de drogas e ao terrorismo, tendo também a grande mídia como um dos seus maiores rivais.

Mas em que esses dois presidentes seriam tão semelhantes? Seria uma comparação desesperada dos órgãos de imprensa mundo afora no afã de colocar os "vilões do mundo" na mesma "sacola"? Eis, portanto, cinco pontos principais nos quais possam se assemelhar, ou diferir, com base nos acontecimento que envolveram os governos de Duterte nas Filipinas, durante sua carreira política até o momento, e o trabalho do Bolsonaro desde sua carreira legislativa anterior até os primeiros meses como líder máximo do Brasil.


1. Eleições e popularidade

Bolsonaro

Uma de suas principais bandeiras, se não a mais importante, foi a reputação. Citado perante a justiça como um dos únicos parlamentares que não aceitou vantagens ilícitas, ganhou simpatia de seus eleitores por mais esse fato. Por ter uma parcela ínfima de projetos aprovados no congresso, apesar de ter apresentado centenas, acabou tendo reforçado a seu favor o argumento de que jamais recebera propina para aprovar projetos com os quais não concordava (o que gerou inimizades) além de, também, não ter "comprado" o apoio aos próprios.

Com quase 30 anos de vida parlamentar, foi eleito com pouco mais de 55% dos votos contra o candidato do Partido dos Trabalhadores (de esquerda, pró-socialismo) que esteve no poder durante os 16 anos anteriores. Em seus primeiros dias de governo, apesar uma série de polêmicas, manteve um índice de aprovação de 75% e muito trabalho pela frente, sendo os acontecimentos mais notáveis até agora sua visita aos Estados Unidos da América para um encontro com o presidente Donald Trump, quebrando anos de "demonização" daquele país pelas vertentes políticas dos anos anteriores.

Duterte

Fez um trabalho excepcional em Davao, a principal cidade da região de Mindanao ao sul das Filipinas, em relação ao combate à violência e ao tráfico de drogas. Com uma metodologia bastante questionável (uso de milícias e execuções extra-judiciais), acabou conseguindo uma redução de aproximadamente 25% nos índices de crimes (nos dois últimos anos frente à prefeitura) deixando a cidade entre as poucas do país que obtiveram queda, mesmo estando na região mais conturbada do país (Mindanao é assolada por grupos terroristas que têm conexões com o Estado Islâmico cujo ataques mais cruéis foram as decapitações massivas em Marawi em 2017 ou o mais recente em Jolo, na província de Sulu no final de janeiro, onde foram mortas dezenas de pessoas dentro de um igreja católica).

Foi eleito com quase 40% dos votos, ficando o segundo lugar com Mar Roxas, candidato que defendeu o governo em um escândalo de corrupção e extorsão descoberto pelo NBI (National Bureau of Investigation - a Polícia Federal das Filipinas) envolvendo uma série de políticos e funcionários do Aeroporto Internacional Ninoy Aquino em Manila. Por ter sido levada a público em Novembro de 2015, acabou o beneficiando ainda mais. Atualmente, o presidente conta com um índice de confiança de 72% e uma luta constante contra o tráfico de drogas e o terrorismo. As Filipinas também subiu 12 posições no ranking mundial de transparência e combate à corrupção.


2. Religião

Bolsonaro

Jair Bolsonaro não só afirma ser cristão como defende suas posições mais religiosas, tendo surpreendido ao fazer uma oração ao vivo após saber que fora eleito. Tinha também o apoio maciço das igrejas evangélicas e católica, com pouquíssimas dissidências. Ele é católico e a primeira dama, Michelle Bolsonaro, evangélica e participante de uma série de projetos sociais voltadosaos deficientes auditivos e aos físicos. Conta ainda com um forte apoio da bancada evangélica no congresso.

Duterte

Já Rodrigo Duterte não se afina muito com a igreja católica, mesmo o catolicismo sendo a religião predominante no país. Isso é perceptível devido aos ataques e críticas frequentes principalmente voltados aos bispos, dizendo até mesmo que eles deveriam ser mortos. Uma afirmação tão forte tem raízes profundas como o fato de ter sido abusado por padres quando ainda criança. Outro detalhe é que a igreja tem criticado sua política de carta branca aos policiais para executarem quem resista à prisão. Quanto à igreja católica em si ele diz se tratar da "instituição mais hipócrita" e que os bispos são inúteis, "tudo o que fazem é criticar", em referência à sua política de tolerância zero com o tráfico de drogas.


3. Organização das Nações Unidas

Bolsonaro

Uma de suas alegações é que a ONU tem servido apenas aos países da esquerda mundial, representados principalmente por ditaduras, que parecem ter formado um grupo em busca da hegemonia. Isso parece cada dia mais verossímil quando se vê aberrações como o "presidente" da Venezuela, Nicolás Maduro, sendo condecorado pelo presidente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura por sua luta contra a fome no país. Ou mesmo pelo fato de o Conselho dos Direitos Humanos permitir que países com históricos "questionáveis" façam parte do grupo e não tenham iniciativas que realmente defendam aqueles que de fato precisam, como as mulheres do mundo árabe por exemplo.

Duterte

A briga de Duterte com a ONU é mais direta. Relacionada principalmente às comissões de direitos humanos, o presidente deu alguns "recados" polêmicos a representantes oficiais da organização. Primeiro declarou a consultora em assuntos relativos aos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz (cidadã filipina) como persona non grata por estar envolvida com grupos terroristas que assolam o sul do país segundo informações do serviço de inteligência. Em seguida, mandou "para o inferno" o juíz da corte inter-americana de direitos humanos, Diego García-Sayán, quando se manifestou contra a remoção da presidente da suprema corte das Filipinas, Maria Lourdes Sereno, por ser contra as políticas anti-drogas do governo.


4. Relações internacionais

Bolsonaro

Com um perfil mais pragmático, o novo governo tenta se aproximar de países que tendem mais à direita no espectro político, ou seja, mais liberais na economia, deixando de lado as associações de cunho alegadamente e puramente ideológico que teriam impedido o Brasil de fazer negócios com os países mais ricos do mundo. Outro detalhe é a batalha diplomática contra os países mais à esquerda sendo a Venezuela o principal. O país vizinho enfrenta uma crise humanitária, com refugiados chegando à nossa fronteira norte a todo momento. Recentemente o Brasil declarou apoio ao autoproclamado presidente Juan Guaidó em vez do "atual" Nicolás Maduro, ainda que ele seja reconhecido por outros países como Cuba, China, Rússia e alguns países árabes.

Duterte

Apesar de as Filipinas serem um país tradicionalmente aliado dos Estado Unidos, Duterte tem buscado acordos com a China alegando que não têm como enfrentar militarmente um país de dimensões continentais e com um exército tão poderoso, apesar de ter prometido ainda durante sua campanha que lutaria contra o expansionismo de seu vizinho. Sob alegações de "abandono" do apoio americano principalmente durante o governo Obama (que teria se omitido enquanto a China construía ilhas artificiais militares um uma região que pertencia às Filipinas), o presidente alega que teme pela segurança de seu povo e de seu país. Ou seja, o grande país asiático tem se tornado cada vez mais um parceiro inevitável.


5. Patriotismo

Bolsonaro

Ex-militar, com lema de campanha "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", pode certamente ser considerado um patriota. Tal fato foi também razão de algumas pechas que o tentaram atribuir tendo sido mesmo acusado de nazista, ainda que sua aproximação com Israel e o povo judaico seja sem precedentes. Teve que lidar em seus primeiros meses com algumas polêmicas nesse sentido, como a solicitação do seu Ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodriguez, às escolas pelo Brasil para que fizessem os alunos cantarem o hino nacional e enviassem gravações do ato... fato que foi fortemente atacado não somente pelos adversários políticos como também pela mídia tradicional.

Duterte

O amor à pátria sempre foi uma constante para os filipinos, seja pelo respeito às figuras históricas ou aos símbolos nacionais como a bandeira. Se o hino do país é tocado (em qualquer lugar, inclusive em cinemas antes da exibição de alguns filmes), é obrigatório permanecer em posição de sentido, algo que grande parte dos habitantes está acostumado, mas que pode render pena de detenção. Mesmo com regras definidas para o uso da bandeira "somente como bandeira", não é incomum ver pessoas prestando homenagem em suas roupas e demais objetos, o que pode render várias sanções. O nacionalismo é, então, intrínseco não somente para o presidente como para todos os filipinos. 


Considerações finais

Com base nesses pontos não é possível afirmar que sejam semelhantes dois presidentes tão distintos, principalmente nos costumes. Talvez a única convergência seja proteger o seu povo e enaltecer seu país, algo que Duterte está fazendo bem. Bolsonaro ainda está começando e, apesar do que os opositores ou a mídia possam falar, parece que as medidas tomadas têm sido acertadas, fato que pode ser confirmado pelos recordes da bolsa de valores brasileira ou pelas prisões de políticos corruptos ocorridas nos últimos dias, sendo a mais importante a do ex-presidente Michel Temer.

Talvez a melhor comparação seja após alguns anos de governo para tratar com profundidade de assuntos como economia e meio ambiente, os quais têm sido destaque nas Filipinas. No Brasil, além da economia, há uma expectativa grande quanto à segurança pública e educação, algo que em quatro anos de governo (Bolsonaro afirma que não vai buscar a reeleição) muito provavelmente não trará resultados mais palpáveis.

Independentemente da vertente política que se possa ter, uma vez no Planalto, Bolsonaro merece sim críticas quando erra, mas certamente apoio quando faz o correto. É compreensível que, em um país cuja classe política é tida como corrupta antes de quaisquer outros julgamentos, a população esteja tão desconfiada, principalmente devido à constante difusão de notícias falsas deixando muitos sem saber o que pensar. Contudo, a busca pela verdade deve ser constante venha ela da ideologia que for.



Para maiores informações sobre os países da Ásia, viagens, promoções e cultura siga a página do Instituto Brasilipino no Facebook. Publicamos notícias relevantes e dicas importantes para viagens internacionais em geral, com segurança e preços que cabem no seu bolso, sempre tendo como principal destinação os países do oriente. 



Licença Creative Commons
O trabalho Blog Oficial do Instituto Brasilipino para integração das culturas Brasileira e Asiática de Giovani Fernandes está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição 4.0 Internacional.
Baseado no trabalho disponível em https://brasilipino.blogspot.com/.

Postagens mais visitadas deste blog

A semana na Ásia - 19 a 25/01/2020

Vistos para o Sudeste Asiático: LAOS

5 sugestões do que fazer na Geórgia